Carlos Villagran, Danilo Gentili

Bom, eu começo raciocinando sobre uma frase que ouvi de um “colega” na saída da sessão de “Como Se Tornar O Pior Aluno da Escola”. Ele ironicamente, e talvez se sentindo incomodado com algumas piadas que tenham sido direcionadas ao grupo dele, disse: “Nossa que obra arrebatadora, mudou minha vida”. Mas ai entra o questionamento, é mesmo necessário que todo o filme “mude vidas” com ideologias complexas e reflexões morais? É isso que o público está esperando? Não é o que as bilheterias costumam dizer, e claro, que toda a crítica tem gosto pessoal (não acredite em quem diz o contrário), mas analisar o filme de acordo com a proposta dele, é no mínimo, uma obrigação de quem se propõe a “ajudar” na sua decisão sobre o que assistir nos cinemas ou não…

“Como se Tornar o Pior Aluno da Escola”, traz Bernardo e Pedro, que se veem divididos entre as obrigações escolares, a necessidade de tirar boas notas e ter bom comportamento, e a falta de propósito em cumprir todas as normas de uma escola que adota medidas cada vez mais politicamente corretas graças ao diretor Ademar (Carlos Villagrán). Após momentos de frustração, Pedro encontra no banheiro do colégio um diário contaminado com dicas para instaurar o caos na escola sem ser notado.

O filme começa com uma cena que te leva a crer que eles vão partir de algo sério, o que logo se mostra uma pegadinha, e uma boa forma de introduzir o estilo que pretendem adotar. Os roteiristas não escondem as inspirações em comédias (hoje consideradas) politicamente incorretas dos anos 80, que traziam de um tudo nas “Sessões da Tarde” da vida, sexo, bullyng, violência, drogas e por aí vai. Não há nada em “Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola”, que já não tivéssemos visto nos filmes adolescentes mais leves dos anos 80 e 90.

O filme tem uma sacada muito esperta de funcionar como um agente do caos oitentista em uma juventude que não suporta piadas com nada ou ninguém, e já corre para o Twitter afim de levantar hashtags para mudar o mundo. É literalmente como se um “espirito de porco” dos anos oitenta invadisse os dias de hoje.

Algumas piadas realmente funcionam bem, outras parecem passar do ponto, um exagero desnecessário para mostrar que o filme não tem “limites”, o que vemos que não é bem a verdade pela classificação dele (14 anos) e a falta de alguns assuntos óbvios (drogas???). Existem algumas cenas para causar “nojo”, por exemplo, totalmente gratuitas, que não são engraçadas e ainda são longas.

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“Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola”, também recebe influências não admitidas, mas claras, da série “Os Simpsons”, logicamente mais focadas no núcleo da escola. Todas as travessuras de Bart Simpson estão lá, um Milhouse com medo de fazer as loucuras, um diretor politicamente correto e um zelador totalmente “torto”, que aparece nos momentos mais impróprios e rouba a cena.

Este zelador, inclusive, vale o destaque. Vivido por Moacyr Franco, de longe a melhor coisa do filme. Totalmente natural, bem contextualizado e com um tempo de humor incrível, que o veterano traz de anos trabalhando com lendas do humor brasileiro como Ronald Golias.

 

Danilo Gentili
Danilo Gentili e os “cabaços”

Apesar da dificuldade com o português (que acaba sendo ignorada pelo filme), a presença de Carlos Villagrán traz um simpatia interessante e totalmente justificável ao personagem Ademar, já que o Brasil tem algumas gerações que cresceram com muito carinho pelo ator, e vê-lo interpretar outro personagem também desperta curiosidade. É uma boa e divertida homenagem ao eterno Quico. Os dois atores mirins não parecem muito familiarizados com a interpretação, o que estranhamente funciona para o filme, assim como o próprio Danilo Gentili, que basicamente interpreta ele mesmo e facilita as coisas para todos.

O diretor estreante Fabrício Bittar, se esforça dentro da proposta, mas mostra ainda certa falta de habilidade em segurar o tom do filme e comandar o trabalho da equipe técnica, como o caso da montagem, que tem problemas muito básicos, do tipo de não se entender a movimentação dos personagens de uma cena para outra.

Enfim, “Como Se Tornar O Pior Aluno da Escola”, mergulha entre boas ideias, uma ânsia nostálgica e algumas idiotices gratuitas, mas definitivamente não pode ser acusado de ser mais uma “comédia do Hassum”. Com certeza não é um filme para a família que assiste a novela das nove da Globo, mas sim para o público que ficou carente de uma MTV e encontrou nos “Youtubers” (para o bem ou para o mal), seu ponto de apoio. Confira o trailer e nossa “Chuck Nota”, logo abaixo.