No final da trilogia Creed encontramos Adonis Creed já consagrado e prestes a se aposentar quando um um velho amigo retorna, um prodígio do boxe, que após anos na cadeia reaparece cheio de mágoa e sede de sucesso.

Depois de dois excelentes filmes, Creed chega ao seu terceiro capítulo tentando provar que existe vida pós Rocky. Michael B. Jordan estreia na direção e mostra boas ideias e eficiência, apesar de ter uma comparação difícil com o início da franquia, dirigido pelo talentosíssimo, Ryan Coogler (“Pantera Negra”).

O novo diretor não fez questão de esconder durante o pré-lançamento suas inspirações em Animês. De fato, muitas referências são facilmente vistas, como: Haji no Ipo, Naruto, Dragon Ball, esse último com cenas bastante espelhadas (Freeza vs Goku/Majin Vegeta vs Goku). Entre tudo de positivo que essas inspirações poderiam trazer, existia o risco das lutas se tornarem menos realistas do que estamos acostumados a assistir na franquia, apesar de, por outro lado, oferecerem um tipo de diversão diferente.

Há um excesso de uso de C.G.I que pode tirar o foco do longa, algo que não combina com a própria proposta da trilogia. Os ginásios artificiais carecem da energia presente nos filmes anteriores.

“Creed 3” é um filme que se parece muito com Rocky 3 (lutador no auge da fama, vilão das ruas, treino com antigo adversário, perdas importantes) está tudo lá. Damien é uma versão do Cluber Lang só que muito melhor desenvolvido, com um background claro e um ator anos luz a frente do folclórico Mr.T.

Esse personagem é o que há de melhor no filme, Jonathan Majors é incrível. Todas as vezes que ele aparece o clima pesa, a cena fica tensa. O ator desenvolveu um personagem que representa perigo, dentro e fora do ringue, inclusive, com ótimas motivações, às vezes baseadas nas atitudes do próprio Adonis. Faz falta apenas a ascensão do Damien, vê-lo “curtir” mais o momento, ganhar fama e até despertar preocupação nos adversários.

É possível assistir “Creed 3” sem ter assistido os dois primeiros, fato que tem pontos positivos e negativos. A fórmula clássica da franquia e suas alegorias, onde o boxe é simplesmente um pano de fundo, sem dúvidas se faz presente, mas também prepara algumas armadilhas, como a necessidade de haver um “mestre” com força suficiente para segurar a narrativa.

Dividirá opiniões, poderia ter funcionado, mas, na verdade, Rocky Balboa faz falta. Principalmente pra equilibrar o estilo de Adonis Creed. Michael B Jordan é excelente, mas, especificamente nessa franquia, funcionou melhor ao lado de Sylvester Stallone. É evidente que o filme teria um ganho enorme com o personagem, alguns momentos pediam pela simplicidade e ingenuidade da figura do senhor Balboa, algo que eles tentam amenizar aqui com o Little Duke (Wood Harris), tentando assumir o papel desse conselheiro, mas sem peso suficiente para suprir esse vácuo deixado pela ausência de Stallone. Entre algumas tentativas frustradas de se auto referenciar em personagens que não tinham tanto apelo fora de seu contexto, ainda resta para o ótimo casal vivido por Michael B Jordan e Tessa Thompson, alguns bons momentos, inclusive, na delicada e bonita relação com a filha.

Enfim, reforçado por sua trilha sonora sempre impecável, “Creed 3” é um bom entretenimento, principalmente se você já investiu tempo e gosta da franquia. A improvável e surpreendente trilogia conseguiu criar seu legado, ainda que tente não olhar muito para trás nesse último capitulo.